Mãe Gêmea

Tia Vera chegou aqui cedinho, dizendo para eu acompanhá-la até sua casa, não queria dirigir sozinha. Tomamos café, arrumei umas coisas na bolsinha e saímos, em direção ao seu carro.

Conversando sobre a vida, tia denuncia sua tristeza, dizendo que saiu de casa porque não se sentia valorizada, e preferiu partir para um sítio, lá possuía cães e muito espaço pras pessoas irem.

Demorou para chegar em sua casa. Lembro das imagens das árvores, dos pinheiros, do vento soprando forte em minha face quando eu abri uma fresta da janela do Fusca.

Chegamos era noite. A casa, grande e espaçosa, muito espaçosa, um cão da raça Golden a recebeu com alegria enquanto ela colocava as suas chaves sobre uma singela mesa redonda de madeira. Uma casa simples e aconchegante. Pegamos água e sentamos no quintal. Histórias mil…

Depois, a gente se alimentou, eu lembrei que foi ela quem me levou pela primeira vez no Sarau Café com Poesia, na zona leste de SP, e falamos sobre arte.

Vi tia Vera rejuvenescer durante a conversa, de repente era uma garota conversando comigo.

Com o coração apertado, anunciei que precisaria ir embora, afinal já tínhamos conversado e ela já estava em casa. No abraço apertado, choramos.

Falei pra ela que eu ia só pegar mais roupas, livros e um pouco de erva, pra fazermos um sarau em sua casa, logo menos.

Quando acessei a parte externa, tudo tão verdejante, eu acordei. Era tudo um sonho!

Tia Vera está agora na Pedra Branca, cuidada pelas suas irmãs e sobrinhas. Há alguns anos teve um problema de saúde e segue sob cuidados da família. Um dia, quando eu soube que tia Vera, a mais amorosa das minhas tias, mal devido problemas com um de seus filhos, ele dependente químico.

Tia Vera não anda sozinha mais. Que vontade de ir dar um abraço nela e ouvir gritando com toda alegria “lindão gostosão da tia”, isso dilacera demais meu peito! E quando confessei ser gay, ela sorriu e disse que já sabia, normal.

As vezes eu penso que era pra gente estar rindo, viajando por aí, paquerando pessoas, jogando, fumando, sem se importar com quem não valoriza a gente. Mas a vida é rápida demais….

Essa manhã de sexta-feira vai ficar eternizada em mim. Sonhei que fiz com tia Vera algo que nunca fiz: ser, com ela, como dois melhores amigos, mais do que unidos: felizes.

Acho que esse sonho significa alguma coisa. Ela deve estar com saudade. Nesse carnaval irei desfilar sob seu olhar, quero ir abraça-la. Inclusive, falando em carnaval, tia Vera me levava pra assistir os desfiles das escolas de samba, era tão bom!

Saudade forte da tia Vera. Preciso ir visitá-la.

_

Diego Rbor

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s